Dói-me a cabeça... por dentro!

terça-feira, novembro 27, 2007

"A ausência de Ti"

"Acordava todos os dias, a esticar os braços e a procurá-lo na almofada, as mãos a perfurarem o espaço para lhe fazer o carinho habitual.
Esquecia-se. Como num ritual, esquecia-se todos os dias que o corpo dele já ali não estava, que o frio do lençol era a resposta diária aos seus movimentos.
O mesmo se passava pela casa toda, pelos dias que corriam e ela sempre num estado de semi-inconsciência, que outra coisa se podia chamar aquela incapacidade de aceitar que ele partira para sempre?
Muitas vezes, quando caminhava na rua, o frio a bater-lhe no rosto, como agora, nestes dias em que o Natal se aproximava e a cidade cobria-se de cores, falava sozinha pelo passeio, como se o tivesse a seu lado e ambos, naquelas conversas que mantinham ao longo dos anos, pontuadas pelo pormenor de cada um acabar as frases do outro, como se efectivamente ele ali estivesse.
Contudo, perante os outros, mantinha a sua postura, embora a névoa que lhe cobria o rosto fosse indisfarçável, tentava que ninguém tivesse pena dela e, principalmente, que ninguém referisse o nome dele.
Ele que tinha partido para sempre era grande de mais para pequenas conversas de circunstância.
E, assim, mantinha-se viva, vivendo com a sua ausência, numa dor que era um misto de surpresa e uma força tenaz de ignorar a realidade.
O amor não morre. E quem o disser não sabe do que fala."

Luísa Castel-Branco

2 comentário(s):

Em 28 novembro, 2007 22:38, Anonymous Anónimo disse

Que texto lindo e tãão verdade.. mas quem sou eu pra falar =X

 
Em 24 junho, 2009 17:53, Anonymous Anónimo disse

nao, um amor morre...

 

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