Dói-me a cabeça... por dentro!

sexta-feira, novembro 03, 2006

O que há em mim é sobretudo cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço -
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisas nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que falta nelas eternamente;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito.
Há sem dúvida quem desejo o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço.
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço.


Álvaro de Campos

1 comentário(s):

Em 06 novembro, 2006 23:40, Anonymous Anónimo disse

imitador de poemas :P @

 

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